Desde o Caribe começamos a sonhar em velejar em nosso barco. Os desafios eram enormes: Não sabíamos nada de vela. Precisávamos aprender a velejar, comprar um veleiro e juntar dinheiro. Ou seja, precisávamos de tudo!
Eu administrava nosso curso de inglês e Vilfredo,
economista, prestava consultoria empresarial. Tinhamos 25 anos e muita vontade
de realizar nosso sonho. Trabalhávamos dobrado, economizávamos cada centavo e,
nos fins-de-semana, aulas de vela. Compramos nosso primeiro barco, um veleiro da classe lightning pagando com uma vela importada, assim
com o escambo ganhamos o Polvo, um barco Lightining de 6 metros sem motor nem cabine.
Um menino de 14 anos nos ensinou a velejar, e confesso
que levei alguns sustos quando o barco adernava, pois temia que o barco virasse
e eu caísse no mar. Fui criando coragem e em pouco tempo me sentia como um
cisne, que descobre sua verdadeira identidade, e não mais um patinho
feio. Venci meus medos e avancei em ambições marinheiras. Nosso
aprendizado foi participando de regatas, no Brasil e no exterior.
Em 1975, podía contar nos dedos de duas mãos quantas
mulheres no Brasil velejavam e corriam regatas! Eu sofria um bullying discreto dos velejadores masculinos:
Porque não vai cuidar de seus filhos? Porque não deixa seu marido velejar
sozinho? Você não tem mais nada para fazer? Vai correr regatas com todos esses
homens? Todo mundo fala palavrão! Voce não se importa, né?
E as mulheres me perguntavam: Você não tem medo do mar?
Sabe que vai estragar seu cabelo e sua pele? E se você cair no mar? Com quem
ficam seus filhos? Você não enjoa?
No Iate Clube Veleiros da Ilha nessa época: mulheres
velejadoras adultas somente Izabel (mãe do velejador André Fonseca, o
Bochecha), as outras,as jovens Lilian Reitz e a Jackie Vasconcelos de Hobbie Cat.
Meu amor pelo mar e pela vela já havia me tornado
uma tripulante indispensável no barco.Confesso que também era metida e queria aprender tudo
(continuo a mesma), e me esforçava muito para ser boa nas manobras da vela
balão, minha função a bordo.
Mas valeu minha persistência. Hoje 30 anos depois olho
com saudades aquele inicio do aprendizado da com a vela com o maior carinho.
Continuo a realizar meus sonhos, agora em família com laços bem apertados pelo amor, pela confiança e o
respeito pelos mares...
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