Descoberta Científica
Em 1886, o cientista americano William Horatio Bates
anunciou o descobrimento do hormônio adrenalina,
secretado na região
dos rins. Em momentos de estresse, nosso corpo produz quantidades abundantes deste hormônio que prepara o organismo
para grandes esforços
físicos, estimula o coração, eleva a tensão
arterial, relaxa certos músculos e
contrai outros.
Pois eu gostaria de anunciar aqui minha grande descoberta
científica. Uma nova forma
de adrenalina que não
vem dos rins. É a “adrenalina do coração”, que vou registrar com o nome científico de formigalina. A formigalina é secretada quando o
aventureiro vive situações
de extrema emoção, mas
não necessariamente de
perigo ou estresse. Ao contrário
da adrenalina, o hormônio
que descobri estimula o coração-emoção.
Desde que chegamos à
Nova Zelândia, no início do mês, tenho vivido muitas
destas emoções.
Ancoramos aqui pela primeira vez em dezembro de 1990. Foi
para cá que voltamos,
quebrados e desmastreados, em junho de 1991!depois de enfrentar a pior e mais
devastadora tempestade de nossa vida de velejadores. Fomos abraçados pelo carinho e apoio
moral e material durante a nossa recuperação
e a reconstrução do
nosso barco. Os meninos foram para a escola durante este tempo e fizeram amigos
que até hoje são parte de suas vidas. Um
deles, Warren Green nos "adotou "como sua família brasileira.
Foi aqui que Wilhelm comprou sua prancha de Windsurf de Russel Caryle, que se tornou sua companheira de muitas vitórias. E sao amigos desde1991!
Foi aqui que David me disse que não continuaria a viagem conosco, que iria ficar
em terra. Foi duro vê-lo
na extremidade do cais, aos 17 anos, acenando para nós, sua figuara ficando cada vez menor, enquanto o barco navegagava a caminho de outros mares. Foi aqui que David fez
universidade - Televisão
e Cinema – e começou sua carreira de
Cineasta, trabalhando em produções
locais.
Foi aqui que conhecemos Jeanne e Robert. Um casal de
velejadores, ela brasileira e ele neozelandês,
que ancoraram seu barco ao lado de nosso Aysso,
em dezembro de 1991. Quando sua filha Kat nasceu, foi com emoção
que segurei aquele bebe rechonchudo de olhos vivos e espertos. Eu nem imaginava
que três anos depois
ela se tornaria nossa filha.
Onze anos depois, Vilfredo, eu e meus filhos trouxemos as
cinzas de Kat para serem depositadas no cemitério
de Nort Shore emAuckland junto com Jeanne e Roberto. Uma cerimônia que nunca esquecerei.
Sim, a vida de aventuras nos proporciona momentos de pura
adrenalina. Mergulhos com tubarões
ou arraias gigantes, visitas a tribos isoladas, navegação em regiões
controladas por piratas assassinos.
Mas a aventura também
permite que vivenciemos momentos de extrema emoção
que nada tem a ver com estresse, com perigos, com alturas ou profundidades: é a família amiga que vive numa
ilha do Pacífico Sul e
que, não importa que
17 anos tenham se passado, começam
a pular de alegria na praia assim que identificam a bandeira brasileira na popa
do veleiro que se aproxima, e os abraços
e lágrimas trocados na
praia assim que desembarcamos; são
os amigos de escola dos meninos, agora pais e mães,
que vem nos visitar e conversar como se nada tivesse mudado; é ver Vilfredo e Emmanuel,
avô e neto, em
esportes radicais, compartilhando o mesmo gosto pela aventura.
Nestas horas, o coração
não dispara. O coração fica apertado, feliz ou
triste, e eu penso que são
momentos como estes, junto com os momentos de adrenalina, que fazem valer
a pena nossa vida de aventuras pelos mares.
Bem, agora vou registrar a formigalina junto à comunidade científica internacional...