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Friday, January 15, 2021

FORMIGALINA

 Descoberta Científica

Em 1886, o cientista americano William Horatio Bates anunciou o descobrimento do hormônio adrenalina, secretado na região dos rins. Em momentos de estresse, nosso corpo produz  quantidades abundantes deste hormônio que prepara o organismo para grandes esforços físicos, estimula o coração, eleva a tensão arterial, relaxa certos músculos e contrai outros.

Pois eu gostaria de anunciar aqui minha grande descoberta científica. Uma nova forma de adrenalina que não vem dos rins. É a adrenalina do coração, que vou registrar com o nome científico de formigalina. A formigalina é secretada quando o aventureiro vive situações de extrema emoção, mas não necessariamente de perigo ou estresse. Ao contrário da adrenalina, o hormônio que descobri  estimula o coração-emoção.

Desde que chegamos à Nova Zelândia, no início do mês, tenho vivido muitas destas emoções. 

Ancoramos aqui pela primeira vez em dezembro de 1990. Foi para cá que voltamos, quebrados e desmastreados, em junho de 1991!depois de enfrentar a pior e mais devastadora tempestade de nossa vida de velejadores. Fomos abraçados pelo carinho e apoio moral e material durante a nossa recuperação e a reconstrução do nosso barco. Os meninos foram para a escola durante este tempo e fizeram amigos que até hoje são parte de suas vidas. Um deles, Warren Green nos "adotou "como sua família brasileira.

Foi aqui que Wilhelm comprou sua prancha de  Windsurf de Russel Caryle, que se tornou sua  companheira de muitas vitórias. E sao amigos desde1991!

Foi aqui que David me disse que não continuaria a viagem conosco, que iria ficar em terra. Foi duro vê-lo na extremidade do cais, aos 17 anos, acenando para nós, sua figuara ficando cada vez menor, enquanto o barco navegagava a caminho de outros mares. Foi aqui que David fez universidade - Televisão e Cinema e começou sua carreira de Cineasta, trabalhando em produções locais. 

Foi aqui que conhecemos Jeanne e Robert. Um casal de velejadores, ela brasileira e ele neozelandês, que ancoraram seu barco ao lado de nosso Aysso, em dezembro de 1991. Quando sua filha Kat nasceu,  foi com emoção que segurei aquele bebe rechonchudo de olhos vivos e espertos. Eu nem imaginava que três anos depois ela se tornaria nossa filha. 

Onze anos depois, Vilfredo, eu e meus filhos trouxemos as cinzas de Kat para serem depositadas no cemitério de Nort Shore emAuckland junto com Jeanne e Roberto. Uma cerimônia que nunca esquecerei.

Sim, a vida de aventuras nos proporciona momentos de pura adrenalina. Mergulhos com tubarões ou arraias gigantes, visitas a tribos isoladas, navegação em regiões controladas por piratas assassinos.

Mas a aventura também permite que vivenciemos momentos de extrema emoção que nada tem a ver com estresse, com perigos, com alturas ou profundidades: é a família amiga que vive numa ilha do Pacífico Sul e que, não importa que 17 anos tenham se passado, começam a pular de alegria na praia assim que identificam a bandeira brasileira na popa do veleiro que se aproxima, e os abraços e lágrimas trocados na praia assim que desembarcamos; são os amigos de escola dos meninos, agora pais e mães, que vem nos visitar e conversar como se nada tivesse mudado; é ver Vilfredo e Emmanuel, avô e neto, em esportes radicais, compartilhando o mesmo gosto pela aventura. 

Nestas horas, o coração não dispara. O coração fica apertado, feliz ou triste, e eu penso que são momentos como estes, junto com os momentos de adrenalina,  que fazem valer a pena nossa vida de aventuras pelos mares. 

Bem, agora vou registrar a formigalina junto à comunidade científica internacional...

 

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