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Thursday, June 30, 2011

UMA HEROÍNA DE 12 ANOS

UMA HEROÍNA DE 12 ANOS


24 de julho de 1998. Ilha Robinson Crusoé (Juan Fernandez)
No final da tarde, a luz suave do sol entre as nuvens iluminava as casas brancas com telhados vermelhos, da vila que parecia um desenho de criança.
– Olá! Donde viene ustedes? Bienvenidos a Juan Fernandez!
Minha emocao era grande ao colocar os pés na ilha onde viveu Robinson Crusoé!Um dos meus livros favoritos.
No pier,em cada um dos postes do cais estava pendurado um poster com um poema sobre o mar, as montanhas, os pescadores e a ilha










Na praça estão os correios, a prefeitura, o posto policial, a capitania, um pequeno bar-restaurante, uma pousada e uma cabine telefônica e um enorme gongo com uma placa: EMERGÊNCIA.
 – Ah! Isto é nossa tecnologia.– Em qualquer emergência esse é o melhor modo de avisar toda a cidade. Rimos muito com essa tecnologia...


27 de fevereiro de 2010 Ilha Robinson Crusoé (Juan Fernandez)
Martina Maturana, uma menina de 12 anos é filha de um policial na ilha Robinson Crusoé.
Nesse dia, ela acordou com um leve tremor, e desconfiada avisou o pai. Para tranquilizar a menina, ele telefonou para o continente – o arquipélago de Juan Fernández fica a 600 quilômetros da costa do Chile. Ao ouvir o avô, morador de Valparaíso, relatar que um terremoto de 8,8 graus na escala Richter havia devastado o país, Martina olhou pela janela e viu barcos ancorados na baía pulando e batendo uns contra os outros.Era o que precisava para tomar uma atitude. Rapidamente, a menina correu para a praça e tocou o gongo repetidamente. Mesmo sem saber os códigos de emergência – dois toques para incêndios e três para desmoronamentos –, Martina despertou os moradores, que também começaram a tocar sinos e fugiram para a parte mais alta do lugar. Minutos depois, três ondas gigantes de cerca de 40 metros atingiram a ilha e destruíram a cidade.
 Com sua coragem e determinação, Martina salvou a vida dos 700 habitantes da ilha.
O tsunami deixou 16 mortos e 6 desaparecidos no arquipélago de Juan Fernández.





Sunday, June 19, 2011

ÁFRICA SELVAGEM E MISTERIOSA

Novembro de 1999.
Difícil saber quem de nós não se sentia com a idade de Kat, 7 anos, quando fomos fazer  nossa aventura pelas Reserva de Hulwehluwe-Umfolozi, fundada em 1895. Com 96.000 hectares, uma das maiores áreas de preservação natural do país, onde os animais selvagens vivem livres no seu habitat. 
Dirigíamos devagar, em dois jipes e de repente passou na nossa frente um elefante caminhando rápido. 
Depois de 10 minutos cruzamos uma ponte. Um rinoceronte branco, deitado, parecia estar dormindo perto da margem. Ao seu lado um elefante fêmea.
Silêncio! Não se movam. O rinoceronte está morto. Avisou nosso guia Hannes. Olhando para o céu, completou: É coisa recente, não vejo nenhuma ave de rapina sobrevoando o local.

Enquanto isso, tinha início uma das cenas mais impressionantes que já vi na minha vida!

Depois de farejar delicadamente o rinoceronte, o gigante começou a empurrar o animal inerte. Primeiro com a tromba, depois com as presas. A cada tentativa frustrada de reanimar o morto, a aliá ficava mais desesperada e nervosa. Olhando os seus olhos, eu tive a impressão de que ela chorava. Ela abanava as orelhas, e retomava a tentativa para reanimá-lo...
– Fiquem bem quietos. Sussurrou Hannes. O elefante está “nervoso”.
Com sua tromba, “pega” o chifre do rinoceronte e busca erguê-lo. Quando vê que o esforço é inútil, tenta empurrá-lo com patas. Os minutos fluem lentos...
A emoção tocou-nos profundamente. Sabíamos todos estar presenciando um fato inédito: o enorme animal numa demonstração de carinho, delicadeza, dor e solidariedade com outro bicho, que nem era da sua própria espécie. Só se escutavam dois sons: o grunhido do elefante e a câmera de filmar de David, que registrava tudo atentamente.

Uma mudança na brisa e a aliá pressente a nossa presença. Sentindo-se ameaçado, ele coloca suas patas, uma de cada vez, em volta do animal morto, cobrindo-o com seu corpo, sem machucá-lo. Ao mesmo tempo, levanta suas grandes orelhas abanando-as e emitindo sons hostis.
Vamos embora, ela está muito agressiva. – Pediu nosso guia. Partimos do local. Um equipe de guardas-parque chegou e isolou a área por medida de segurança.

Acredito que a vida toda, vou sempre me lembrar desta cena. 
Quem disse que a África é selvagem? Misteriosa sim...


Heloisa Schurmann- Livro"Em Busca do Sonho"


Sunday, June 12, 2011

AS COLINAS DE CHOCOLATE

1989-Navegamos no Mar de Mindanao, atravessando o estreito entre Cebu e a ilha de Bohol na Filipinas. Fomos fazer uma uma exploração para conhecer as Colinas de Chocolate. Nos haviam falado sobre essa formação geológica de 1.776 (wikipedia.com) morros que durante a estação da estiagem, depois que a grama seca, ficam num tom de marrom, que parecem pingos de chocolate. Não há outra formação natural semelhante com as Colinas de Chocolate. Sao 1700 dessas colinas.
O caminho era difícil e demorado, e subimos por uma escada íngreme de 213 degraus, ate o alto da colina. De tirar o fôlego, literalmente.


Não acreditei enquanto subia e parava nos mirantes, na vista espetacular. Por todos os lados, as colinas marrons com alturas entre 40-120 metros muito parecidos umas com as outras, estão espalhadas num vale ao nosso redor, por cerca de três quilômetros.

Lá em cima, um lugar mágico. Ah seu tivesse asas para planar por cima delas ao sabor do vento!

Marilag, nossa guia, começou a falar baixinho, contando a lenda romântica das Colinas de Chocolate:
Meu bisavô ouviu essa historia de seu avô, e é passada de geração em geração.

Era uma vez , faz muito tempo, um gigante jovem e forte chamado Arogo que se apaixonou por uma simples e comum mortal chamada Aloya.Um dia ela estava tomando banho em um riacho, Arogo a raptou e a levou para sua casa. A feiura do gigante assustou Aloya que morreu de susto.O gigante inconformado de perder seu amor,sofreu tanto que não parava de chorar. Chorava, chorava, chorava. As suas lágrimas caiam no chão e se transformaram em pequenos morros:as colinas de chocolate.
No silencio total, para mim, as Colinas de Chocolate ganharam um sabor de mistério e misticismo que me fez pensar nos enigmas do passado e nas incógnitas do futuro...


Heloisa Schurmann ( Do livro Em Busca do Sonho)

PS - Existem inúmeras hipóteses de como surgiram as Colinas de Chocolate. Há algumas que afirmam que ocorreu uma meteorização (decomposição de rochas e solos por ação de efeitos químicos, físicos e biológicos que resultam da sua exposição ao ambiente) do calcário, vulcanismo suboceânico, aumento do nível dos mares e uma teoria mais recente que diz que as colinas resultaram de um antigo vulcão que se explodiu e despejou gigantes blocos de rochas que posteriormente foram cobertos por calcário do fundo dos oceanos.





Saturday, June 4, 2011

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Na Patagônia, eu estava cedinho retirando o gelo das gaiutas quando escutei gritos.Movimentos diferentes, num barco pesqueiro próximo do Aysso, chamaram minha atenção. Na popa do barco, um pássaro se batia, tonto. Acredito que tenha voado contra algum obstáculo... Não deu para ver se era uma gaivota, talvez um petrel? 
Coitado, estava ali imóvel, as asas esticadas, a cabeça pendendo para um lado.


Três pescadores, que estavam no barco, correram para ele e começaram a examiná-lo. Um deles pegou o pássaro, colocando-o próximo do peito, como se fosse um bebê. Outro trouxe água em um copo. Mergulhavam um pano na água e devagar passavam no bico do bichinho.

Fazia muito frio, mas fiquei no convés, olhando para aqueles homens rudes, enrijecidos por uma vida árdua, que os leva a enfrentar todos os dias estas águas geladas e este vento incessante. No entanto, naquele momento, seus olhos eram só ternura para o pássaro que sofria. Preocupados, eles andavam de um lado para outro, cada um com um diagnóstico, os três querendo segurar a gaivota. Discutiam, gesticulavam, quase desesperados.

Vendo aquela cena tão bonita, eu pensava nos recentes congressos de meio ambiente, onde se discute sobre a poluição,a contaminação dos oceanos, a mudança climática que afeta os mares, nos pássaros e peixes marinhos que estão seriamente ameaçados pela pesca descontrolada.Só o material plástico descartado mata anualmente um milhão de pássaros marinhos, 100.000 mamíferos marinhos e incontáveis peixes.

Que irônico! Será que estes três heróis anônimos sabiam da ameaça que paira sobre todos os pássaros marinhos do mundo?


De repente, como se estivesse já cansada de tanta confusão, o pásssaro sacudiu as asas, ensaiou alguns passos, e alçou seu vôo bonito, juntando-se a um bando de amigos que passavam. Os três bateram palmas, felizes como crianças!


Naquele momento, desejei que todos os todos os chefes de governo fossem pescadores!


Heloisa Schurmann

Wednesday, June 1, 2011

1989.Baia de Tuvahine, Polinésia Francesa. Chovendo três dias sem parar. O mar a nossa volta parecia terra, cheio de troncos e folhas de coqueiros. Aproveitamos para colocar as aulas em dia. Na matemática eram frações com lado pratico - fazer um bolo:3/4 de farinha de trigo,um quarto de um tablete de manteiga,1/4 de acucar etc. Pronto o bolo, tínhamos que dividi-lo em 8 partes e cada um comer 1/8 e sucessivamente ate ficarmos com ½ bolo.Divertido e didatico. A noite deixamos o bolo em cima da pia e fomos dormir. Pela manha o bolo tinha sido roído e corroído.
Quem fez isso? conclusão:tínhamos um camundongo a bordo. A noite coloquei farinha de trigo na bancada e uma isca de toucinho. Pela manhã descobrimos marcas de patinhas e a isca desaparecida.Humm. Todos alimentos tinham sido guardados na geladeira e armários.Como entrou aquino meio da baía?Lógico, o bicho deve ter sido trazido pela enxurrada e subiu pela corrente da ancora.


-Vamos procurar em todos os lugares! Fácil, o veleiro é um lugar pequeno.Ledo engano. Cada canto foi vasculhado e nada do roedor. Vilfredo , bravo capitão, se aventurou no diluvio e foi na vila mais próxima comprar ratoeiras para camundongos e as colocamos no barco com iscas. A noite, escutamos dois estalos, corremos pra ver e nada. No quarto dia, acabou a chuva, decidimos velejar de volta a Tahiti.Um camundongo a bordo podia roer fios,danificar a eletricidade, roer as roupas etc .

Na partida, eu estava no leme e o Capitão e os meninos,David e Wilhelm, levantavam a vela. De repente, um ratão pulou da vela ao meu lado. Foi uma gritaria a bordo e o bicho correu da gente, entrou na cabine e se escondeu entre as almofadas da sala, com o rabo de fora. Pequei o rato pelo rabo, de cabeça pra baixo. e o levei para fora.
Os meninos estavam esperando com bastão de beisebol pronto pra bater no bicho
-NAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAO.Berrei! Aghh, já imaginou ter que limpar o estrago? Vamos jogá-lo n'água.

Com o barco perto do pier da vila,larguei o ratão no mar. E bem faceiro, ele nadou para as pedras e foi embora.