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Thursday, June 30, 2011

UMA HEROÍNA DE 12 ANOS

UMA HEROÍNA DE 12 ANOS


24 de julho de 1998. Ilha Robinson Crusoé (Juan Fernandez)
No final da tarde, a luz suave do sol entre as nuvens iluminava as casas brancas com telhados vermelhos, da vila que parecia um desenho de criança.
– Olá! Donde viene ustedes? Bienvenidos a Juan Fernandez!
Minha emocao era grande ao colocar os pés na ilha onde viveu Robinson Crusoé!Um dos meus livros favoritos.
No pier,em cada um dos postes do cais estava pendurado um poster com um poema sobre o mar, as montanhas, os pescadores e a ilha










Na praça estão os correios, a prefeitura, o posto policial, a capitania, um pequeno bar-restaurante, uma pousada e uma cabine telefônica e um enorme gongo com uma placa: EMERGÊNCIA.
 – Ah! Isto é nossa tecnologia.– Em qualquer emergência esse é o melhor modo de avisar toda a cidade. Rimos muito com essa tecnologia...


27 de fevereiro de 2010 Ilha Robinson Crusoé (Juan Fernandez)
Martina Maturana, uma menina de 12 anos é filha de um policial na ilha Robinson Crusoé.
Nesse dia, ela acordou com um leve tremor, e desconfiada avisou o pai. Para tranquilizar a menina, ele telefonou para o continente – o arquipélago de Juan Fernández fica a 600 quilômetros da costa do Chile. Ao ouvir o avô, morador de Valparaíso, relatar que um terremoto de 8,8 graus na escala Richter havia devastado o país, Martina olhou pela janela e viu barcos ancorados na baía pulando e batendo uns contra os outros.Era o que precisava para tomar uma atitude. Rapidamente, a menina correu para a praça e tocou o gongo repetidamente. Mesmo sem saber os códigos de emergência – dois toques para incêndios e três para desmoronamentos –, Martina despertou os moradores, que também começaram a tocar sinos e fugiram para a parte mais alta do lugar. Minutos depois, três ondas gigantes de cerca de 40 metros atingiram a ilha e destruíram a cidade.
 Com sua coragem e determinação, Martina salvou a vida dos 700 habitantes da ilha.
O tsunami deixou 16 mortos e 6 desaparecidos no arquipélago de Juan Fernández.





Sunday, June 19, 2011

ÁFRICA SELVAGEM E MISTERIOSA

Novembro de 1999.
Difícil saber quem de nós não se sentia com a idade de Kat, 7 anos, quando fomos fazer  nossa aventura pelas Reserva de Hulwehluwe-Umfolozi, fundada em 1895. Com 96.000 hectares, uma das maiores áreas de preservação natural do país, onde os animais selvagens vivem livres no seu habitat. 
Dirigíamos devagar, em dois jipes e de repente passou na nossa frente um elefante caminhando rápido. 
Depois de 10 minutos cruzamos uma ponte. Um rinoceronte branco, deitado, parecia estar dormindo perto da margem. Ao seu lado um elefante fêmea.
Silêncio! Não se movam. O rinoceronte está morto. Avisou nosso guia Hannes. Olhando para o céu, completou: É coisa recente, não vejo nenhuma ave de rapina sobrevoando o local.

Enquanto isso, tinha início uma das cenas mais impressionantes que já vi na minha vida!

Depois de farejar delicadamente o rinoceronte, o gigante começou a empurrar o animal inerte. Primeiro com a tromba, depois com as presas. A cada tentativa frustrada de reanimar o morto, a aliá ficava mais desesperada e nervosa. Olhando os seus olhos, eu tive a impressão de que ela chorava. Ela abanava as orelhas, e retomava a tentativa para reanimá-lo...
– Fiquem bem quietos. Sussurrou Hannes. O elefante está “nervoso”.
Com sua tromba, “pega” o chifre do rinoceronte e busca erguê-lo. Quando vê que o esforço é inútil, tenta empurrá-lo com patas. Os minutos fluem lentos...
A emoção tocou-nos profundamente. Sabíamos todos estar presenciando um fato inédito: o enorme animal numa demonstração de carinho, delicadeza, dor e solidariedade com outro bicho, que nem era da sua própria espécie. Só se escutavam dois sons: o grunhido do elefante e a câmera de filmar de David, que registrava tudo atentamente.

Uma mudança na brisa e a aliá pressente a nossa presença. Sentindo-se ameaçado, ele coloca suas patas, uma de cada vez, em volta do animal morto, cobrindo-o com seu corpo, sem machucá-lo. Ao mesmo tempo, levanta suas grandes orelhas abanando-as e emitindo sons hostis.
Vamos embora, ela está muito agressiva. – Pediu nosso guia. Partimos do local. Um equipe de guardas-parque chegou e isolou a área por medida de segurança.

Acredito que a vida toda, vou sempre me lembrar desta cena. 
Quem disse que a África é selvagem? Misteriosa sim...


Heloisa Schurmann- Livro"Em Busca do Sonho"


Sunday, June 12, 2011

AS COLINAS DE CHOCOLATE

1989-Navegamos no Mar de Mindanao, atravessando o estreito entre Cebu e a ilha de Bohol na Filipinas. Fomos fazer uma uma exploração para conhecer as Colinas de Chocolate. Nos haviam falado sobre essa formação geológica de 1.776 (wikipedia.com) morros que durante a estação da estiagem, depois que a grama seca, ficam num tom de marrom, que parecem pingos de chocolate. Não há outra formação natural semelhante com as Colinas de Chocolate. Sao 1700 dessas colinas.
O caminho era difícil e demorado, e subimos por uma escada íngreme de 213 degraus, ate o alto da colina. De tirar o fôlego, literalmente.


Não acreditei enquanto subia e parava nos mirantes, na vista espetacular. Por todos os lados, as colinas marrons com alturas entre 40-120 metros muito parecidos umas com as outras, estão espalhadas num vale ao nosso redor, por cerca de três quilômetros.

Lá em cima, um lugar mágico. Ah seu tivesse asas para planar por cima delas ao sabor do vento!

Marilag, nossa guia, começou a falar baixinho, contando a lenda romântica das Colinas de Chocolate:
Meu bisavô ouviu essa historia de seu avô, e é passada de geração em geração.

Era uma vez , faz muito tempo, um gigante jovem e forte chamado Arogo que se apaixonou por uma simples e comum mortal chamada Aloya.Um dia ela estava tomando banho em um riacho, Arogo a raptou e a levou para sua casa. A feiura do gigante assustou Aloya que morreu de susto.O gigante inconformado de perder seu amor,sofreu tanto que não parava de chorar. Chorava, chorava, chorava. As suas lágrimas caiam no chão e se transformaram em pequenos morros:as colinas de chocolate.
No silencio total, para mim, as Colinas de Chocolate ganharam um sabor de mistério e misticismo que me fez pensar nos enigmas do passado e nas incógnitas do futuro...


Heloisa Schurmann ( Do livro Em Busca do Sonho)

PS - Existem inúmeras hipóteses de como surgiram as Colinas de Chocolate. Há algumas que afirmam que ocorreu uma meteorização (decomposição de rochas e solos por ação de efeitos químicos, físicos e biológicos que resultam da sua exposição ao ambiente) do calcário, vulcanismo suboceânico, aumento do nível dos mares e uma teoria mais recente que diz que as colinas resultaram de um antigo vulcão que se explodiu e despejou gigantes blocos de rochas que posteriormente foram cobertos por calcário do fundo dos oceanos.





Saturday, June 4, 2011

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Na Patagônia, eu estava cedinho retirando o gelo das gaiutas quando escutei gritos.Movimentos diferentes, num barco pesqueiro próximo do Aysso, chamaram minha atenção. Na popa do barco, um pássaro se batia, tonto. Acredito que tenha voado contra algum obstáculo... Não deu para ver se era uma gaivota, talvez um petrel? 
Coitado, estava ali imóvel, as asas esticadas, a cabeça pendendo para um lado.


Três pescadores, que estavam no barco, correram para ele e começaram a examiná-lo. Um deles pegou o pássaro, colocando-o próximo do peito, como se fosse um bebê. Outro trouxe água em um copo. Mergulhavam um pano na água e devagar passavam no bico do bichinho.

Fazia muito frio, mas fiquei no convés, olhando para aqueles homens rudes, enrijecidos por uma vida árdua, que os leva a enfrentar todos os dias estas águas geladas e este vento incessante. No entanto, naquele momento, seus olhos eram só ternura para o pássaro que sofria. Preocupados, eles andavam de um lado para outro, cada um com um diagnóstico, os três querendo segurar a gaivota. Discutiam, gesticulavam, quase desesperados.

Vendo aquela cena tão bonita, eu pensava nos recentes congressos de meio ambiente, onde se discute sobre a poluição,a contaminação dos oceanos, a mudança climática que afeta os mares, nos pássaros e peixes marinhos que estão seriamente ameaçados pela pesca descontrolada.Só o material plástico descartado mata anualmente um milhão de pássaros marinhos, 100.000 mamíferos marinhos e incontáveis peixes.

Que irônico! Será que estes três heróis anônimos sabiam da ameaça que paira sobre todos os pássaros marinhos do mundo?


De repente, como se estivesse já cansada de tanta confusão, o pásssaro sacudiu as asas, ensaiou alguns passos, e alçou seu vôo bonito, juntando-se a um bando de amigos que passavam. Os três bateram palmas, felizes como crianças!


Naquele momento, desejei que todos os todos os chefes de governo fossem pescadores!


Heloisa Schurmann

Wednesday, June 1, 2011

1989.Baia de Tuvahine, Polinésia Francesa. Chovendo três dias sem parar. O mar a nossa volta parecia terra, cheio de troncos e folhas de coqueiros. Aproveitamos para colocar as aulas em dia. Na matemática eram frações com lado pratico - fazer um bolo:3/4 de farinha de trigo,um quarto de um tablete de manteiga,1/4 de acucar etc. Pronto o bolo, tínhamos que dividi-lo em 8 partes e cada um comer 1/8 e sucessivamente ate ficarmos com ½ bolo.Divertido e didatico. A noite deixamos o bolo em cima da pia e fomos dormir. Pela manha o bolo tinha sido roído e corroído.
Quem fez isso? conclusão:tínhamos um camundongo a bordo. A noite coloquei farinha de trigo na bancada e uma isca de toucinho. Pela manhã descobrimos marcas de patinhas e a isca desaparecida.Humm. Todos alimentos tinham sido guardados na geladeira e armários.Como entrou aquino meio da baía?Lógico, o bicho deve ter sido trazido pela enxurrada e subiu pela corrente da ancora.


-Vamos procurar em todos os lugares! Fácil, o veleiro é um lugar pequeno.Ledo engano. Cada canto foi vasculhado e nada do roedor. Vilfredo , bravo capitão, se aventurou no diluvio e foi na vila mais próxima comprar ratoeiras para camundongos e as colocamos no barco com iscas. A noite, escutamos dois estalos, corremos pra ver e nada. No quarto dia, acabou a chuva, decidimos velejar de volta a Tahiti.Um camundongo a bordo podia roer fios,danificar a eletricidade, roer as roupas etc .

Na partida, eu estava no leme e o Capitão e os meninos,David e Wilhelm, levantavam a vela. De repente, um ratão pulou da vela ao meu lado. Foi uma gritaria a bordo e o bicho correu da gente, entrou na cabine e se escondeu entre as almofadas da sala, com o rabo de fora. Pequei o rato pelo rabo, de cabeça pra baixo. e o levei para fora.
Os meninos estavam esperando com bastão de beisebol pronto pra bater no bicho
-NAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAO.Berrei! Aghh, já imaginou ter que limpar o estrago? Vamos jogá-lo n'água.

Com o barco perto do pier da vila,larguei o ratão no mar. E bem faceiro, ele nadou para as pedras e foi embora.

Saturday, May 28, 2011

CÉU DE ÁGUA

Suavemente, Kat mergulhou
nas profundezas do mar,
e se fez água e luz, sal e cor.
Agora, não haverá distância nem tempo:
tudo será Noronha, Caribe,
Mediterrâneo, Egeu.



Apenas, sem limites nem medidas,
o silêncio dos abismos
e o deslizar das correntes,
por entre algas e peixes,
ostras e conchas.


Vez em quando, Kat ouvirá
um distante ruído de motor,
um suave drapejar de velas.
  


E pensará no mundo pequeno
e agitado em que viveu.
Subirá talvez à superfície
para contemplar a solidão das ilhas,
a lembrança das praias.


          Docemente, então, mergulhará no azul profundo,
na plenitude da paz,
no céu de água onde viverá para sempre!


                                                                                                                            (Edmílson Caminha 2006)


Kat, há cinco anos você foi para o CÉU DE ÁGUA e nos deixou com muitas saudades.

Tuesday, May 17, 2011

DIA INTERNACIONAL DO MUSEU


Sou fã de carteirinha de Museu. Isso começou quando éramos pequenas, minha mãe nos vestia,minha irmã Eliane e eu com as melhores roupas para irmos visitar os museus. Vivíamos no Rio e visitamos todos os daquela cidade e dos arredores, sendo meu favorito o Palácio Imperial de Petrópolis,o MUSEU IMPERIAL.
Fomos morar em Nova York quando eu era adolescente,e íamos de metro, as vezes de onibus para chegar quando abrissem as portas e ficar até  elas fecharem.Quantas descobertas! Guggenheim,New York Hall of Science,o Museum of the City of New York, o MET(Metropolitan Museum of Art), os Cloisters e pelo menos 10 outros mais.
Meu favorito era o Natural History Museum.Ia visitá-lo sempre que podia, e voltava lá trazendo algum parente ou amigos do Brasil que vinham nos visitar.Coitados, queriam fazer compras em NY e iam parar no Museu comigo.
Eu andava pelo prédio de quatro andares, curtindo tudo e se desse tempo ia ler na maior biblioteca de história natural.
Os artefatos culturais de diversas civilizações, algumas já extintas, e mais de 32 milhões de espécimes animais que vão de dinossauros a borboletas, de mamutes a moluscos são incríveis.
Mas o que me fascinava mesmo, eram os dinossauros. Lá esta a maior coleção de ossos de dinossauros do mundo,que contam a história da evolução de mais de 600 espécies (85% das ossadas são reais). Acho que até os fosseis já me conheciam.
Agora da pra imaginar euzinha, de caderno anotando tudo?

Pois é, cresci virei mãe e lá fui eu "arrastar" meus filhos para visitar os museus no Brasil e pelo mundo.


Por todos os 45 países que passamos, um museu pelo menos era alvo de nossa expedição. Na realidade a curiosidade era minha, mas eles me viam tão entusiasmada que desconfiavam que tinha algo de bom nos museus.E aprendi muito através das perguntas e ponto de vista deles e continuo aprendendo.



Recentemente visitei o interessante Museu da Lingua Portuguesa em São Paulo,moderno e interativo.E o ultimo que conheci, em janeiro desse ano, foi com meu filho David e meu neto Kian, o Museu do Trem em Miami(Gold Coast Railroad Museum).Muito divertido!
Os museus tem muitas histórias interessante para contar e nos temos muitas delas para contar em um museu. Por isso criamos em Bombinhas, SC, o Museu da Família Schurmann no Instituto Kat Schurmann, com exposição de fotos, vestimentas, objetos e peças de artesanato dos lugares que visitamos, miniatura do veleiro Aysso e equipamentos de navegação.

E você, já visitou um Museu esse ano?

Thursday, April 28, 2011

Não nasci para ficar no porto...

No mar, em Floripa,abril,2011. Nos oceanos, percorri infinitas milhas, sentindo a brisa no rosto, buscando no horizonte o que é invisível aos olhos mas que imaginei em meus sonhos. Minha paixão é o mar. Aprendi a amar,a entender,a perdoar e a ir além daquilo que eu considerava ser meus limites, a admitir e enfrentar meus medos.Foi no mar que vi meus filhos crescerem e no mar ganhei uma filha.
No momento estou tentando adivinhar a nuance exata do azul que muda para inimagináveis tons de verde, cinza e volta a ser azul. Num piscar de olhos, ele passa de calmo para tormentoso, de amigo para inimigo, e se diverte conosco humanos, em nossas tentativas de conhecê-lo, domá-lo e conquistá-lo. Ele tem me ensinado a ser forte e corajosa num momento, só para tirar essas minhas certezas mais adiante.Tive que descobrir meios de me adaptar às situações novas e imprevistas. Ouço sua voz que canta e me encanta, e nesse momento,no Aysso, me embala. Seu sussurro me diz... solte suas amarras,siga seu destino. E entendo a mensagem:  não nasci para ficar no porto...


Thursday, April 21, 2011

FELIZ PÁSCOA

Em junho de 1999, quando estávamos velejando na Magalhães Global Adventure,passamos um momento especial na Ilha de Páscoa.

Localizada ao sul do Oceano Pacífico, essa ilha abriga os misteriosos moais, estátuas esculpidas a partir das pedras do vulcão Rano Raraku, dispostas em diversos altares espalhados pela ilha.
A lembrança que mais me emociona é ligada a Kat. Quando estávamos perto da ilha, ela tinha certeza de que os ovos de Páscoa eram fabricados lá. Afinal a ilha tem o nome de Páscoa?Os coelhinhos eram o centro das preocupações de Kat. Ao desembarcarmos ela os procurava em todos os lugares,e não os encontrava. Como explicar-lhe onde estavam os bichinhos? Saíram de férias?
— Ah, já sei. Eles foram para a Patagônia. Lembra que vimos muitos deles lá? - eu dizia.
— Mas eu sei que eles deixaram ovinhos para mim! - ela falava com firmeza.
Procuramos por todos os supermercados da ilha, mas não encontramos nada parecido com um ovo de páscoa nomes de junho!
No meu diário de bordo transmitido online, comentei o assunto sobre os ovinhos.
Dias depois, minha sobrinha Fernanda que mora em Miami, nos enviou uma encomenda. Ao abrir o pacote, encontrei duas dúzias de ovos de plástico, lindos, coloridíssimos recheados de chocolate.Chorei de emoção. Ela havia lido o meu diário sobre a expectativa de Kat.
Ao amanhecer do dia seguinte, Jaime, tripulante do Aysso, foi em terra construir ninhos de pedra para esconder os ovinhos, num gramado bem em frente aos moais.
Kat acordou e a convidamos para ir procurar os ovos. Animada, procurou pelos ninhos em todos os montes de pedra. O desapontamento dela aumentava a cada tentativa frustrada... Quando chegou em frente aos moais, retirou uma pedra de um ninho e ao ver um objeto colorido, começou a derrubar as outras pedras, gritando:
— É aqui! Olha, quantos ovinhos! E que lindos! Viu? Não falei que aqui era a ilha da Páscoa?
Sentou-se no chão e foi colocando todos os ovos no colo e falou:
— Estou muito feliz, eu sabia que vocês não iam se esquecer de mim.Obrigado coelhinhos...
Emocionada, agradeci o carinho de Fernanda.

Feliz  Páscoa!

Tuesday, April 12, 2011

Hoje o dia amanheceu mais feliz e fui ...

... procurar nos calendários e relógios para saber onde foi parar o tempo. Vendo suas fotos, David,desde bebe, menino, adolescente, homem e pai, me lembro como se fosse hoje quando o segurei recém nascido nos meus braços.Quem me dera que eu pudesse parar o tempo. Mas se isso fosse possível, eu teria perdido os momentos tão lindos e privilegiados de vê-lo crescer e se tornar essa pessoa especial que voce é. E meu amigo também.
Meu filho, quero desejar tudo de ótimo, hoje e sempre... 


Happy Birthday David!
I love you very much.

Com muito muito carinho da Formiga

Thursday, March 31, 2011

Como fomos enfeitiçados pelo mar.



Parece que foi ontem, mas foi em 1974.Um ano de muitas mudanças em nossas vidas.É bem verdade que foi de muito trabalho na escola de inglês que dirigíamos, mas foi também o nascimento de David, nosso segundo filho.

Em dezembro,deixamos Pierre,(6 anos) e David (9 meses)com os avós Elly e Eddie enquanto Vilfredo e eu fomos passar a semana de férias de Natal, nas Ilhas Virgens, no Caribe. Fizemos todos os programas típicos dos turistas: praia, mergulhos, passeios pelas ruelas com casario histórico. No terceiro dia, caminhávamos de mãos dadas pela orla, quando vimos passar um veleiro,com pessoas rindo, felizes. Nunca tínhamos velejado antes mas, naquele mar azul-turquesa e de águas transparentes, aquele veleiro era um convite para a aventura.

- “Vamos dar uma volta de barco?”, perguntou Vilfredo. Meus olhos brilharam. Desde pequena tenho um sonho de saber o que existe atrás dos horizontes... Nascida e criada em Ipanema, o mar fazia parte do meu dia–a-dia. Meu passatempo favorito era ir até a ponta do Arpoador, em Ipanema, e, sentada nas pedras, ficava olhando os navios e barcos e imaginando para onde será que vão e de onde vem. Que vontade tinha de descobrir o que havia alem da linha do horizonte...
- “Então vamos!”, confirmou Vilfredo. E fomos fazer reserva para o dia seguinte.

Entramos no veleiro sem nenhum preparo prévio. Não estou me referindo às instruções de segurança à bordo. O que quero dizer é que ninguém nos avisou que velejar pela primeira vez pode mudar o destino das pessoas.
Quando você está no alto-mar, o veleiro deslizando na água, o silêncio sendo quebrado somente pelo farfalhar das velas contra o vento, o ruído do mar contra o costado, você não percebe a presença de Netuno, Rei dos Mares, movimentando seu tridente, envolvendo os marinheiros de primeira viagem, desavisados do poder de sua magia. Quando percebe que alguma coisa estranha está acontecendo com você, já é tarde demais. Você foi enfeitiçado pelo mar.

Sunday, January 9, 2011

UMA RECEITA DE FAMÍLIA QUE LI NO LIVRO DE FRANCISCO AZEVEDO E COMPARTILHO COM VOCÊS ...


Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo.
Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vem a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida - azeitona verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida.

Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano - quem diria? - solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.

Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias - que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar - tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.

Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão.Não existe “Família à Oswaldo Aranha”, “Família à Rossini”, Família à “Belle Meunière” ou “Família ao Molho Pardo” - em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada - seriam assim um tipo de “Família Diet”, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para serem preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se fazer assim ou assado - uma chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora para outra, por atração física incontrolável - quase sempre de noite. Você acorda de manhã, feliz da vida, e quando vai ver já está com a família feita. Por isso é bom saber a hora certa de abaixar o fogo. Já vi famílias inteiras abortadas por causa de fogo alto.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.


Texto extraído do livro "O Arroz de Palma" de Francisco Azevedo (Editora Record, 2008)